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Sobre Intolerância Política e Visão Dicotômica de Mundo

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Sou a prova viva de que a intolerância política não predomina nem à esquerda e nem à direita do espectro político, e de que é possível superarmos uma visão dicotômica de mundo.
 
Tenho muitos amigos que se vêem e se classificam como de esquerda, que discordam veementemente de algumas ideias minhas. Embora existam alguns poucos intolerantes, a maioria desses amigos sente liberdade para me falar dessa discordância explicitamente, mas nem por isso me trata com desrespeito ou me exclui de seu círculo de amizades. Mais do que isso, eles são capazes de trabalhar em parceria comigo especialmente em projetos que não envolvem diretamente esses pontos de divergência.
 
Da mesma forma tenho muito amigos que se vêem e se classificam como conservadores de direita, que discordam veementemente de algumas ideias minhas. Embora também haja os radicais, a maioria desses amigos também não tem problema em dizer explicitamente que discorda de mim, mas também não me trata com desrespeito ou me exclui de seu círculo de amizades. Mais do que isso, eles também são capazes de trabalhar em parceria comigo em projetos que não envolvem diretamente esses pontos de divergência.
 
É verdade que eu não me vejo e nem me classifico como alguém de esquerda ou de direita. Sendo assim, não me sinto do lado oposto de nenhum desses meus amigos, havendo muitos aspectos em que estou de pleno acordo com ambos os lados. Isso facilita o processo. Talvez se eu me visse como alguém que está do lado oposto, eu dificultasse essa aproximação.
 
Porém, embora eu não me veja do lado oposto (por não me sentir plenamente representada por nenhum lado), a verdade é que a maioria dos meus amigos de esquerda me vê e me classifica como sendo de direita, e muitos dos meus amigos de direita, me vêem como alguém muito influenciada pelas ideias da esquerda. Portanto, se eles fossem intolerantes, não me aceitariam e ponto.
 
A questão fundamental da intolerância para mim está na representação linear que temos do espectro político. Afinal, a política é uma área muito abrangente e complexa para ser representada apenas em uma imagem linear.
 
Minha visão de mundo, minhas crenças, meus valores, minha história de vida e tudo o mais, compõem minha posição política. Como dizia Paulo Freire, todo ato é um ato político! A forma como eu educo as minhas filhas, como eu me relaciono com meu marido, minha família e meus amigos, como eu encaro o meu trabalho (no meu caso, como eu lido com o processo de educação dos, assim chamados, meus alunos), como eu administro minhas finanças, meus funcionários (atualmente, só os domésticos), como eu lido com a minha espiritualidade, e até a forma como eu crio os meus animais de estimação, revelam minhas convicções políticas! Meus hábitos de consumo (vestimentas, alimentação, lazer, patrimônio), meu estilo de vida, são atos políticos.
 
Ora, se tudo é político, e se tudo é tanta coisa, como uma escala linear será capaz de representar a dimensão política da minha vida?
 
Uma das coisas que eu gostava na Escola Lumiar, onde tive o privilégio de trabalhar, era do currículo em forma de Mosaico. Um mosaico é composto por diversos pontos que possibilitam uma infinidade de combinações diferentes. Cada combinação forma uma imagem única, embora com vários pontos em comum com outras imagens ou realidades.
 
A ideia do mosaico permite tanto uma abordagem por afinidades, de identificação de pontos em comum, quanto uma abordagem pela pluralidade, de identificação pela diversidade.
 
Além do problema da linearidade, outro aspecto que me incomoda no espectro político é sua aparente ausência de movimento. As coisas parecem ser estáticas. Parecem favorecer um rótulo perpétuo.
 
Para mim faz muito mais sentido um mosaico, do que uma escala linear, quando eu penso em política. E não um mosaico pobre, de duas cores. Mas um mosaico multicolorido, com todas as cores tão embaralhadas, que parece até que elas se movimentam, se misturam, ora puxando mais para um tom, ora puxando para outro. Eu posso até destacar duas, dentre as diversas cores, para observá-las e contrapo-las, eventualmente. Mas quando eu olho para o todo, as cores se misturam novamente, e deixam a visão muito mais rica e agradável.
Por mais pluralidade e convergência na política!
Em Salto, 19 de Novembro de 2016.


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